O Tempo Todo

sexta-feira, 16 de junho de 2023


Sempre foi uma batalha pra chegar em você. Você é ótimo em se proteger, se esquivar, construir um muro. Combate qualquer afeto com palavras pontudas, mortais. Ria das minhas vulnerabilidades. Eu ficava feliz, porque ao menos te fazia sorrir. Cortava meu coração ser ridicularizada mas eu amava ouvir sua gargalhada. E assim você se manteve, distante. Um bloco. E eu não conseguia parar. Meu vício. Mas, ah, que proteção boa você usava! 

Eu continuava batendo na porta, do lado de fora, na chuva. Sentindo uma felicidade gigante! Dançava canções que não gostava, sorria em filmes tristes, lia livros que não entendia porque sempre que pensava em você(o tempo todo), tudo virava alegria. Escutava as músicas que você gostava porque adorava ser inundada de você. Largava tudo pra te ouvir falar sobre as coisas que adora, e como é lindo quando você faz isso! Eu me maravilhava no seu maravilhamento. 

Você nunca sentiu a minha falta, eu sentia a sua o tempo todo. Sempre foi uma batalha pra chegar em você, e eu nunca consegui. Mas faria tudo de novo só pela sensação de estar chegando(ilusão).
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Love Bite: Laurie Lipton and Her Disturbing Black & White Drawings - James Scott

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Eu gosto de coisas estranhas desde muito cedo na minha vida. A lembrança mais distante sou eu, com meus 6 anos, olhando admirada a capa do álbum Captain Fantastic And The Brown Dirty Cowboy, do Elton John, que meu pai tinha. A capa desse disco me fascinava e dava medo numa mesma proporção, e eu passava muito tempo olhando cada mistura bizarra que o desenho proporciona. Eu lembro de ficar maravilhada, de não conseguir tirar os olhos daquilo. Não sei se ali foi plantada a sementinha do inusitado em mim ou já existia na minha substância primordial a propensão a isso. Só sei que foi assim, e meus gostos por terror, true crime e a excentricidade de modo geral fazem parte de um pedaço grande dos meus interesses, das minhas curiosidades, e acredito que todos estejam ligados por essa essência esquisita minha.
Então que eu andava ali pela aba Filmes do finado legendas.tv(saudade!) e vi um pôster diferente, estranho, nada comum perto do tanto de conteúdo comercial que formava aquele amontoado de imagens. Eu não sabia nada a respeito daquilo, nada a respeito da artista, mas baixei. E nada me prepararia pro dia em que, tomada pela agonia que acordar todos os dias me proporciona, finalmente dei play no documentário. Ver as obras da Laurie Lipton é como levar uma rajada de um elemento bizarro em enormes proporções. São obras que abraçam o anormal em todo o seu esplêndor, em toda a sua vibração, é como se intoxicar com litros de perversidade. Eu tô muito fascinada! Queria ver todos ao vivo e tenho certeza que ficaria HORAS contemplando cada detalhe do desenho, e eu me tranformaria na Claudinha de 6 anos, experimentaria exatamente aquela sensação.
"Estamos alimentando a besta que provavelmente nos destruirá."
Esse filme é um curta de pouco mais de 30 minutos, que deixou um gigantesco gosto de quero mais, porque preciso saber tudo a respeito de Laurie Lipton agora! O defeito dele é bem esse: não é um longa. A sensação é de que assisti ao trailer de um filme que vai ser lançado e eu certamente vou ver no cinema. Mas penso que justamente por me deixar tão sedenta de Laurie Lipton, definitivamente o curta alcançou um propósito. E um propósito digno, pois tão pouca coisa é capaz de instigar a gente, nessa época de franquias e remakes desastrosos! Vou deixar a sinopse aqui porque gosto muito dela e acho que tem que ter um tino bem específico e especial pra fazê-las. Abaixo.
Sinopse: Com milhões de pequenas pinceladas de seu humilde lápis, as imagens assombradas de Laurie Lipton buscam respostas para alguns dos temas mais desconfortáveis da nossa cultura. Mas o que a leva a viver uma vida isolada em desenhos não é preto nem branco.
Essa última arte definitivamente foi minha favorita, dentre o pouco que vi do trabalho da artista, principalmente levando em conta a breve referência que Laurie fez a ela, no documentário. Por isso a deixei pro final, pra fechar com o que achei de mais assombroso e incessante no mundo, em face da minha própria vivência. Abaixo.
Love Bite: Laurie Lipton and Her Disturbing Black & White Drawings
Dirigido por James Scott
Estados Unidos, 2016
Em infelizmente indisponível nos streamings, apenas por meios alternativos.
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70

domingo, 21 de maio de 2023

Me sentindo traída pelas minhas próprias palavras. Parece que não sei mais juntá-las e fazer sentido. Queria que elas dançassem a música que toca no meu peito, mas elas tem saído sem coreografia. Bailando uma música que não toca ninguém. Um dia já regi sonatas poderosas, que quem ouvia, se apaixonava. Agora ninguém se importa com as batidas dos meus verbos favoritos. Eu que me apaixono por letras compostas por um iceberg. Mas, se ao menos você pudesse cantarolar a música que meu corpo te dedica, eu escolheria um rock'n'roll setentista.

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