Love Bite: Laurie Lipton and Her Disturbing Black & White Drawings - James Scott

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Eu gosto de coisas estranhas desde muito cedo na minha vida. A lembrança mais distante sou eu, com meus 6 anos, olhando admirada a capa do álbum Captain Fantastic And The Brown Dirty Cowboy, do Elton John, que meu pai tinha. A capa desse disco me fascinava e dava medo numa mesma proporção, e eu passava muito tempo olhando cada mistura bizarra que o desenho proporciona. Eu lembro de ficar maravilhada, de não conseguir tirar os olhos daquilo. Não sei se ali foi plantada a sementinha do inusitado em mim ou já existia na minha substância primordial a propensão a isso. Só sei que foi assim, e meus gostos por terror, true crime e a excentricidade de modo geral fazem parte de um pedaço grande dos meus interesses, das minhas curiosidades, e acredito que todos estejam ligados por essa essência esquisita minha.
Então que eu andava ali pela aba Filmes do finado legendas.tv(saudade!) e vi um pôster diferente, estranho, nada comum perto do tanto de conteúdo comercial que formava aquele amontoado de imagens. Eu não sabia nada a respeito daquilo, nada a respeito da artista, mas baixei. E nada me prepararia pro dia em que, tomada pela agonia que acordar todos os dias me proporciona, finalmente dei play no documentário. Ver as obras da Laurie Lipton é como levar uma rajada de um elemento bizarro em enormes proporções. São obras que abraçam o anormal em todo o seu esplêndor, em toda a sua vibração, é como se intoxicar com litros de perversidade. Eu tô muito fascinada! Queria ver todos ao vivo e tenho certeza que ficaria HORAS contemplando cada detalhe do desenho, e eu me tranformaria na Claudinha de 6 anos, experimentaria exatamente aquela sensação.
"Estamos alimentando a besta que provavelmente nos destruirá."
Esse filme é um curta de pouco mais de 30 minutos, que deixou um gigantesco gosto de quero mais, porque preciso saber tudo a respeito de Laurie Lipton agora! O defeito dele é bem esse: não é um longa. A sensação é de que assisti ao trailer de um filme que vai ser lançado e eu certamente vou ver no cinema. Mas penso que justamente por me deixar tão sedenta de Laurie Lipton, definitivamente o curta alcançou um propósito. E um propósito digno, pois tão pouca coisa é capaz de instigar a gente, nessa época de franquias e remakes desastrosos! Vou deixar a sinopse aqui porque gosto muito dela e acho que tem que ter um tino bem específico e especial pra fazê-las. Abaixo.
Sinopse: Com milhões de pequenas pinceladas de seu humilde lápis, as imagens assombradas de Laurie Lipton buscam respostas para alguns dos temas mais desconfortáveis da nossa cultura. Mas o que a leva a viver uma vida isolada em desenhos não é preto nem branco.
Essa última arte definitivamente foi minha favorita, dentre o pouco que vi do trabalho da artista, principalmente levando em conta a breve referência que Laurie fez a ela, no documentário. Por isso a deixei pro final, pra fechar com o que achei de mais assombroso e incessante no mundo, em face da minha própria vivência. Abaixo.
Love Bite: Laurie Lipton and Her Disturbing Black & White Drawings
Dirigido por James Scott
Estados Unidos, 2016
Em infelizmente indisponível nos streamings, apenas por meios alternativos.
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70

domingo, 21 de maio de 2023

Me sentindo traída pelas minhas próprias palavras. Parece que não sei mais juntá-las e fazer sentido. Queria que elas dançassem a música que toca no meu peito, mas elas tem saído sem coreografia. Bailando uma música que não toca ninguém. Um dia já regi sonatas poderosas, que quem ouvia, se apaixonava. Agora ninguém se importa com as batidas dos meus verbos favoritos. Eu que me apaixono por letras compostas por um iceberg. Mas, se ao menos você pudesse cantarolar a música que meu corpo te dedica, eu escolheria um rock'n'roll setentista.

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Querido

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Querido C.,
 
                     Hoje, mais do que nunca, queria saber de você. Porquê deletou sua conta naquela rede social, o que você tem sentido, se terminou aqueles livros que são seus favoritos e se, depois da releitura, o que tem pra falar a respeito. O que anda lendo e gostando. Queria saber o que você acha daquela confusão no grupo, por quê você anda sumido de tudo. Queria saber de coisas que você nunca me contaria porque sempre colocou esse muro entre nós, como aquele texto que você compartilhou, aquele trecho que escreveu, se se referia a nós. Eu nunca teria coragem de perguntar, mas sinto que algumas coisas você escrevia/compartilhava pensando em mim. Mas você sempre disse que não me tinha tais sentimentos.

                  Queria saber se está satisfeito com o trabalho novo, se ele te traz algum tipo de retorno positivo, ao menos. O que tem te deixado contente ultimamente, com quem você conversa de madrugada. Lembra quando a gente virava a noite compartilhando coisas que só nós dois sabemos? Será que você ainda fica acordado de madrugada ou já se acostumou a nova rotina? Quais discos tem comprado, escutado, mesmo que esse assunto não me interesse. Hoje eu queria saber tudo que perdi do pouco que você dividia sobre a sua vida, nesses 5 meses em que paramos de nos falar. Será que você pensa em mim? Será que lembra de mim, ao menos? Algo te faz lembrar que passei por sua vida? E que tanto te dei. Tanto te quis. De tanto querer tive que fugir, porque ficou insuportável sentir. Tive que ir embora e sei que você nunca entendeu. Que se chateou com isso, comigo. Eu, que sempre te chateei. Você dizia que não, mas eu sabia que sim. Ficava estúpido comigo, coisa que nunca te vi ser com ninguém. Como aquilo me doía.

                Queria saber do futuro, se um dia a gente se reencontra ou se vamos ficar apenas nas lembranças um do outro. Queria saber tudo, mesmo que não tenha nos restado mais nada.
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Vessel - Twenty One Pilots

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Escutar Vessel dói fisicamente. Quase como escutar qualquer uma do Keane. Me transporta diretamente pra 2020, uma Cláudia desesperada por manter os escombros de uma construção intactos. Houve muito sofrimento naquele ano, e eu tentei de formas desesperadas me manter de pé. Cometi muitos erros tentando acertar, e acertos que pareciam erros. Mas o álbum não me faz mal, quem faz isso sou eu mesma. Ele é lindo, de uma banda que eu amo como se fosse um lar, e por isso sigo escutando ele como que para manter todas as Cláudias que existem, juntas. Mesmo as partes do qual eu tento desviar o olhar como quem passa por um acidente de trânsito.

Vessel
Twenty One Pilots, 2013
Disponível em Spotify.
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Wake Up - Olivia Wilde

quinta-feira, 11 de maio de 2023


Vi esse curta da Olivia Wilde hoje e como eu gosto do trabalho dela! E achei que é um respiro, uma forma de a gente refletir sobre o uso que a gente faz das redes. Sei que muitos criticam quando alguém diz pra sair da internet, e concordo que não tem mais como a gente estar 100% fora dela, mas acredito muito no equilíbrio, e sei o quanto é difícil construí-lo. Mas que tentemos e nunca nos esqueçamos que, dentro ou fora da tela, o que realmente importa são conexões sinceras e profundas. Sobre o curta, a Margareth Qualley é a maior dessa geração e a minha favorita. Tudo o que ela faz ganha peso. Imperdível, sempre!
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"Eu so patetica"

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Dias atrás eu entrei em crise, por causa de uma corrente do Instagram. Foi aquela mesma dos personagens com a sua energia. Uma coisa que preciso dizer sobre essa corrente é que nunca pensei em mostrar as qualidades dos personagens como a representação de quem sou. Era sempre guiada pelos defeitos, tipo o Chidi(com quem muito me identifico), de The Good Place, que é uma pessoa tão perfeccionista que muitas vezes trava por medo de fracassar(fico apavorada só de escrever essa palavra). Então, não era sobre ser 100% o personagem, mas sobre algumas características que eles tivessem que me fizessem sentir representada. E pensei logo nos defeitos. Por que se tem uma coisa que eu sou, é exigente comigo mesma e sempre acho que tô fazendo tudo errado, então é mais fácil elencar minhas imperfeições, sempre! 

Só que a primeira personagem que me veio a cabeça de colocar na minha lista foi a Fleabag. Se você fizer uma busca com o nome dela no meu perfil do twitter, vai me ver umas três vezes, no mínimo, comentando esse fato. Era uma coisa que eu confidenciava pro meu seleto grupo de seguidores com um pouco de vergonha, mas com muita sinceridade. E nunca vi ninguém falar isso na minha bolha, então eu realmente achava que tava passando vergonha na internet, que é algo que faço bastante. Nunca quis parecer legal quando falei sobre isso, porque eu definitivamente não sou legal. Não sou engraçada e espirituosa como ela, pelo contrário, sou séria demais. Mas tem uma coisa que eu sou demais Fleabag: perdida. Tudo que ela apronta é muito algo que eu faria. Eu amargaria lutos consecutivos como uma penitência. Teria daddy AND mommy issues. Sofreria com todas as lembranças da minha melhor amiga "suicida". Me apaixonaria pelo padre e alimentaria esse sentimento só pra me ver falhar em mais uma coisa. Não haveria controle pros problemas que arranjaria pra mim mesma(e há? #questões). Autodestrutiva, autossabotadora. Ninguém me ensinou a controlar. Aliás, é o contrário: me ensinaram tanto a me conter, me reprimir, me disseram tantas vezes que eu era "geniosa demais" que eu meio que virei um buraco negro. Não consigo mais me segurar. Tão intensa que nada me escapa, não sobra espaço pra refletir. Não quero mais perder nada, quero sentir e viver tudo. Também não vou fazer disso um momento de mea culpa em que percebo que não posso mais viver desse jeito e que vou me esforçar pra mudar, porque não vai adiantar. Talvez um dia eu consiga mudar isso, mas não vai ser hoje, nem amanhã. 

 Então ser a Fleabag, pra mim, era admitir que eu cometo muitos erros(mesmo que com algum carisma), admitir que sou muito humana, uma pessoa meio merda. Mas então apareceu uma, duas, dez pessoas se identificando com ela e eu entendi o recado: era bonito se identificar com a personagem! Aquilo me chocou demais! Dou um sorriso enquanto escrevo isso. Como somos patéticos, né? Entrei numa espiral de: se a visão que tenho de mim mesma é distorcida e a visão dos outros sobre mim também o é, QUEM EU SOU? Não posso com essas coisas muito filosóficas porque eu começo a viajar demais. Na época da faculdade, tive um semestre de filosofia e foi um sofrimento. Odiava as aulas, jurava que estava atrás de todo mundo porque nada fazia sentido, mas sempre tirava as melhores notas. O que prova que eu sou viajada demais mesmo, não é nem tipo. Tava me achando toda especial, o alecrim dourado, única(mas sem arrogância alguma, por favor, entendam), e pra quê? Ter um personagem que tem muita a sua vibe não é nada. Não tem uma lição aqui, apenas que no fim das contas, ninguém quer parecer comigo, e só eu pareço comigo mesma. Só eu tenho a minha energia em 100% do tempo. Então isso tudo é pra concluir que essas porcarias de correntes acabaram pra mim(ou não, porque como vocês leram nesse texto, eu tenho umas atitudes meio merdas mesmo e segue em frente, né?)
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Você sabe

sábado, 6 de maio de 2023


Você sabe que detesto acordar sem você. Olho pro lado e você não está. O mundo fica mais difícil, eu já percebo que vai ser um dia ruim. E não é porque eu quero, porque eu gosto, é que minha ansiedade patológica(ou seja lá o que for esse transtorno) me domina. Você não me deixa um bilhete dizendo onde foi. Eu pareço uma menina assustada, perdida sem os pais. Me desculpa ser tão dependente. Luto para ser mais forte, mas simplesmente não consigo. O pavor me domina e eu só consigo sentir angústia. A psicóloga diz que não me aceito mas como posso aceitar esse arremedo de quem um dia fui. Forte, suficiente, inabalável. Queria voltar a ser aquela. Ela estava mais preparada, menos suscetível. Me magoa muito que você não tenha me avisado. E você sabe.
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After Hours - Martin Scorsese

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Eu dei play nesse filme esperando algo singelo, no estilo carta de amor a NY, mas não foi nada disso o que aconteceu. E eu tô bastante chocada! Juro! Acredito que, por conta da meu transtorno de ansiedade, o filme bateu ainda mais pra mim. Porque a cada nova situação que parece comum mas que na verdade se mostra uma ocorrência bizarra na vida do Paul, eu ficava completamente apavorada! Tem uma cena, já pro final do filme, que pensei que realmente o Scorsese havia, um dia, se metido com terror. O filme não é classificado como terror mas eu vou sempre considerar ele terror. Porque assim como em All My Friends Hate Me(2021)(que indico demais, também, mas esse se declara terror), a forma como as coisas acontecem seria o que de pior poderia acontecer comigo, sendo essa pessoa que tem TAG e odeia brincadeiras de mal gosto, mesmo quando elas vem trazidas pelo Universo.
O Griffin Dunne era muito meu crush quando eu era criança e não tinha nome pra essa fascinação que a gente sentia por um famoso. A gente só dizia que "ele é meu" e ponto. Todas as nossas amiguinhas estavam cientes de que éramos apaixonadas por tal celebridade. Em Who's That Girl(1987), o personagem dele usava óculos de grau, o que deixa qualquer homem uns 200% mais gostoso. Ele era lindo demais!
❝ Eu só quero viver. ❞
Assisti esse filme de madrugada, no escuro, enquanto M. dormia, o que acho que foi acertadamente uma forma de absorver ainda mais o que vi. Fiquei imaginando que tudo aquilo devia mesmo estar acontecendo a Paul Hacket, naquele exato momento em NY, enquanto eu assistia, como um reality show que todo mundo ia dizer que era exagerado nas situações e, consequentemente, achar ruim. Mas como nada faz muito sentido quando se trata dos pavores criados por meu cérebro descompensado e dos meus gostos, eu acreditaria em tudo e seguiria achando muito bom. After Hours
Dirigido por Martin Scorsese
EUA, 1985
Disponível em Looke e NetMovies.
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It'll Pass

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Ola
Hoje foi um dia bem merda. Maratonei as duas temporadas de Fleabag. Pela milionésima vez. E essa ainda dói como se fosse a primeira vez.
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Sweetie - Jane Campion

terça-feira, 2 de maio de 2023

Esse fim de semana vi este filme e me pegou demais! Conviver de perto com uma pessoa que não tem limites, que só pensa em si e bagunça tudo ao redor...eu sei bem como é. Mas não é apenas isso, o filme mesmo, é belíssimo! A fotografia, os personagens, as relações familiares...eu gostei tanto de tudo!
❝ As ilusões não desaparecem. Elas se tornam mais sutis. ❞
Vi alguém reclamar que o título é uma mentira, mas me pergunto se, depois de vê-lo, essa pessoa absorveu alguma coisa. O título é perfeito porque Sweetie é a força motriz de toda ação no filme, tudo acontece por causa dela. Sweetie não precisa ser a protagonista pra deixar bem claro que a vida de todos é transformada, para o bem e para o mal, por sua existência. O que torna ainda mais genial a escolha desse nome.
Ao final, a diretora dedica o filme a sua própria irmã. Fiquei curiosa pra saber se existe alguma verdade na forma como as irmãs se relacionam, no filme, com a conexão da Jane com a Anna(irmã). Tenho essa mania de querer saber de onde os artistas tiram inspiração para suas obras, e não consigo crer que não tenha alguma ligação com sua realidade, mesmo que eles consigam subvertê-la tanto a ponto de não parecer nada com o que vivenciaram. Inclusive, meu sinônimo favorito para a palavra arte é justamente subversão. Arte subversiva me fascina.
Sweetie
Dirigido por Jane Campion
Austrália, 1989
Disponível em Mubi.
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