Cada Um Sabe a Dor e a Delícia de Ser o Que É

domingo, 5 de maio de 2024

Existe maior exemplo de mulher que ousou ser quem é? Não tem! 

Às vezes, um pensamento perturbador me consome. O de que gostaria de ser a mulher que consegue viver um relacionamento de aparências. Acabei de me separar e não tem sido fácil. O fácil mesmo seria continuar como estava, mesmo com todas as frustrações. Mas eu sempre soube, e sempre comuniquei, que nunca ficaria com alguém se não fosse por amor. Amor puro e simples, direto. Até que meu amor não foi o bastante, milhões de outras coisas envolvem estar num relacionamento e isso dar certo.

Quando via filmes de mocinhas corajosas que enfrentavam tudo e todos em nome do amor (é, eu sei), ou qualquer outra coisa que as movia no movimento contrário ao esperado, me questionava se eu conseguiria ter essa coragem. Porque ir atrás dos próprios desejos, pra nós, mulheres, é sempre motivo pra perseguição. Muitas foram condenadas, inclusive, mortas. Continuam sendo, todos os dias. Ficava questionando porque eu nunca quis ser passiva, aceitar as coisas como são, viver pela metade. Mas o perigo sempre é tão grande, eu não ia querer morrer, e em nome de quê, afinal? E acabava concluindo que não conseguiria me pôr em risco dessa forma. Que iria acabar por me preservar.

O que eu não sabia era que tem algo dentro da gente que é exatamente quem a gente é, pra além de todas as convenções e expectativas. E, felizmente ou infelizmente, não consigo deixar de ser quem sou. Quem questiona, analisa, filosofa, pensa, deseja, não se contém. Acho que, agora, depois de ter mudado radicalmente, estar com a vida de cabeça pra baixo e estar disposta a lutar pelo meu futuro e independência, posso dizer que eu teria sim coragem. Eu seria como a Joanna D’Arc da minha própria vida, custasse o que custasse. Está custando e eu estou pagando, e não poderia fazer diferente.

P.S.: timing engraçado de ter começado esse post antes do show da Madonna em Copacabana, ter visto pela tv e, depois da catarse que rolou, termina-lo no dia seguinte ao evento que trouxe tanto no que pensar sobre liberdade. Parece que essa postagem fez ainda mais sentido pra mim. A arte salva mesmo, né?

 

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Black Mirror - Ano 6

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Comecei a ver Black Mirror ainda em 2015, quando os episódios entraram na Netflix (duas temporada, cada uma com 3 episódios), principalmente pela curiosidade com o furor com que algumas poucas pessoas falavam a respeito. Mas ela não era nada conhecida ainda, quase ninguém falava dela. Eu lembro perfeitamente da sensação de quando vi o primeiro episódio, The National Anthem, uma agonia sem fim! Quando terminei de vê-lo, estava tão chocada com tudo aquilo, que fiquei em séria dúvida se deveria continuar. Isso não é bem inédito na minha vida, lembro de outra série que, tendo visto o primeiro episódio, achei que não conseguiria mais ver, e foi Dexter. A quantidade de sangue já na estreia me deixou muito afetada, então eu parei ali. Meses depois, resolvi dar uma segunda chance, e obviamente fui abduzida pela maravilhosidade com que a série foi se desenrolando, obcecada por todos os percalços por que passava um dos nossos anti-heróis favoritos, Dexter Morgan. Virou uma das favoritas da vida.

Outra em que isso aconteceu, e ganhou o posto de série preferida por um longo tempo foi Sons of Anarchy. O primeiro episódio era de uma violência brutal (para a época ou para mim) e eu não quis dar continuidade. Mas ela ficou tão na minha cabeça que, dias depois, retomei. E me apaixonei completamente. E virou uma das séries pela qual tenho um carinho enorme e também figura dentre as minhas Top 10. Então todas são séries que vão te despertar sentimentos muito contraditórios, exatamente como quando a gente sabe que não devia gostar de ver true crimes da vida, mas simplesmente não consegue parar, até que se vê inteiramente entregue e nada mais do absurdo da coisa te espanta. O ideal seria parar já no início. Depois, te garanto que já era. 

Mas então eu fui lá, e um belo dia dei play no segundo episódio, Fifteen Million Merits, e não dava mais pra voltar atrás. Só fui adiante, e depois de milhões de explosões na minha cabeça, com esses 6 episódios, eu estava arrebatada. QUE SÉRIE! A questão é que essas duas primeiras temporadas foram produzidas para o Channel 4, do Reino Unido, em 2011. Só em 2015 a Netflix comprou e passou a produzir, e aí foi o começo do fim. Além da perda do charme, sarcasmo e insanidade britânicos, os roteiros já não contavam mais com algo que acho que é a essência de Black Mirror: a junção de tecnologia analisada sob a perspectiva filosófica, questões morais e a veia visionária. É um produto que te escandaliza e te faz refletir muito. Dá medo imaginar aquelas realidades. Até que algumas delas finalmente chegaram e nos vimos vivenciando aquelas histórias, obviamente forjadas dentro do que é possível para um produto de entretenimento prever. Era preciso olhar ainda mais adiante e prever quais serão as nossas batalhas futuras. 

Isso, hoje, não existe mais. E não foi uma perda completa, a terceira e quarta temporadas ainda seguem bastante da premissa, o que faz valer a experiência. Eu gosto delas, apesar de já sentir alguma diferença, já havia uma perda de rota. Penso muito que BM, como foi concebida, não atrairia tanto público, visto que muito poucas pessoas teriam estômago pra acompanhar os desafios aterradores impostos aos protagonistas, então a Netflix precisava dar uma higienizada para conquistar uma audiência maior. E foi o que ela fez. Só que chegou num ponto, a partir da quinta temporada, que perdeu completamente o sentido. Você vê que claramente a produção não estava mais preocupada em manter qualquer qualidade, já que foram produzidos apenas 3 episódios, com histórias pífias. Até assistíveis, mas sem primor algum, marca da série. Depois inventaram o filme em que, a cada escolha que você fazia, a história se encaminhava para uma direção diferente. Quando terminei de ver, achei abominável! Não precisava, sabe? 

E então, chegamos na sexta temporada. Eu não estava esperando nada mais porque já chega de decepções. Mas sou uma pessoa que, apesar de relutar bastante, se contagia com as expectativas dos outros. Algumas pessoas se disseram empolgadas, e prometi a mim mesma que a série pode ter mudado e, ainda assim, ser algo legal de acompanhar, fui muito de mente aberta ver. O primeiro me deu uma leve agonia que me surpreendeu. Talvez pudesse rolar uma boa temporada! Mas não, gente. Eu me abri, mas não recebi nada de volta. Posso dizer que gostei mesmo apenas de Beyond The Sea, e Demon 79 eu adorei simplesmente porque o terror contido, a ambientação e o carisma da Anjana Vasan me ganharam, mas sei que, em termos de roteiro, não é nada NADA demais. 

Então Black Mirror, hoje, soa mais como uma sombra do que já foi. Ás vezes, penso que o que não faz mais ela funcionar tão bem é o fato de que estamos vivendo no universo de Black Mirror. Tudo que um dia nos chocou na série, hoje tá mais que acontecendo, está até sendo reinventado. Ou realizado de forma diferente, mas com o mesmo objetivo. Acho que nada é mais Black Mirror que nossa realidade atual e por isso, a série não seja mais o que foi, apesar de eu acreditar que dava sim pra imaginar o que vem depois, como ela fez um dia, e seguir nos chocando. Mas pelo visto, ao menos agora, não vai rolar. Vou seguir vendo? Vou! A esperança é realmente a última que abandona o barco, né? Mas não espero nada, e assim, talvez consiga ganhar algo, insistindo em ver.

OBS: desculpem o atraso, essa postagem tava meio pronta desde que saiu a temporada mas a vida me atropelou, e só hoje resolvi resgatar. 
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O Tempo Todo

sexta-feira, 16 de junho de 2023


Sempre foi uma batalha pra chegar em você. Você é ótimo em se proteger, se esquivar, construir um muro. Combate qualquer afeto com palavras pontudas, mortais. Ria das minhas vulnerabilidades. Eu ficava feliz, porque ao menos te fazia sorrir. Cortava meu coração ser ridicularizada mas eu amava ouvir sua gargalhada. E assim você se manteve, distante. Um bloco. E eu não conseguia parar. Meu vício. Mas, ah, que proteção boa você usava! 

Eu continuava batendo na porta, do lado de fora, na chuva. Sentindo uma felicidade gigante! Dançava canções que não gostava, sorria em filmes tristes, lia livros que não entendia porque sempre que pensava em você(o tempo todo), tudo virava alegria. Escutava as músicas que você gostava porque adorava ser inundada de você. Largava tudo pra te ouvir falar sobre as coisas que adora, e como é lindo quando você faz isso! Eu me maravilhava no seu maravilhamento. 

Você nunca sentiu a minha falta, eu sentia a sua o tempo todo. Sempre foi uma batalha pra chegar em você, e eu nunca consegui. Mas faria tudo de novo só pela sensação de estar chegando(ilusão).
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